domingo, 20 de janeiro de 2013

A bailarina

Com a música tamborilando na mente, Elena dava passos leves, acanhados, pelo metrô sujo enquanto relembrava os movimentos da coreografia ensaiada a pouco. No pensamento, a estação estava vazia, pouco iluminada. Apenas um feixe de luz que movia-se na sua frente, iluminando seu caminho e seus saltitares. Ela com os pés descalços no chão frio sentia todas as vibrações daquele lugar,daquela superfície rígida e gélida. Ela descansava seus pés doloridos, sempre doloridos. 
Era incrível a sensação de encontro que tinha com ela mesma quando só a música
e a vontade de dançar habitavam sua mente. Pensava em voz alta, sonhava em voz alta. Sonhava com o corpo, mesmo que tudo persistisse em parecer sonho. A cabeça fervia de tanto imaginar. E o seu corpo, esbelto, só esboçava movimentos de bailarina. O coração, este incessantemente procurava a maneira perfeita de ser menos solitário, menos machucado. A música preenchia a estação, preenchia seus sentidos e na mente ela bailava. Todos os passos sem razão casavam perfeitamente com sua mente musicalista e perturbada pela solidão. Nada disso tinha relevância agora, pensou. Queria ser música e só. 
Depois decidiria o que fazer com o resto.



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